Um famoso programa de televisão colocava uma pessoa numa cabine onde ela não escutava o que lhe era perguntado, mas tinha que responder sim ou não. Os telespectadores se divertiam às custas de pessoas que diziam sim para a troca de um carro por um abacaxi. Era, ao mesmo tempo, tenso e engraçado.

Fora da cabine, no entanto, é lamentável e trágico que tais escolhas sejam feitas mesmo quando em prejuízo de milhões. É o que acontece com a decisão do governo Bolsonaro de acabar com o Bolsa Família e trocá-lo por um programa temporário e sem fontes certas de recursos.

Pior, dando o calote em professores da rede pública, aposentados e pensionistas com a PEC dos Precatórios. Uma PEC com previsão de recursos superiores aos necessários e com destinação obscura quanto ao montante que será usado fora do novo programa.

De um lado um programa que tirou milhões de pessoas da extrema pobreza, reduziu em 16% a mortalidade de crianças de um a quatro anos de idade, aumentou a participação das meninas nas escolas. Uma política de transferência de renda que teve efeito multiplicador no PIB e que viu 69% dos beneficiários iniciais adquirirem as condições para sair do programa. Uma verdadeira e exitosa quebra no ciclo de pobreza, reconhecido e premiado internacionalmente.

De outro, uma promessa vazia e eleitoreira que acena com um auxílio de valor maior, mas válido apenas no ano da eleição. Em janeiro de 2023 o povo não terá qualquer alternativa de proteção social. O cenário conhecemos bem.

O Brasil de Bolsonaro é o país onde as pessoas têm que escolher entre morrer de fome ou revirar lixos em busca de restos comida. Onde mulheres enfrentam longas filas para a doação de osso para garantir uma refeição às suas famílias. Um país que volta ao mapa da fome e da extrema pobreza. Sem assistência, sem opção, sem um governo que olhe por elas.

O cada vez mais milionário ministro da Economia, que lucra em paraísos fiscais, não se importa. O presidente só se importa em ser reeleito e manter sua política de fome, desemprego e desesperança. E, enquanto enriquecem e buscam mais poder, enquanto os bancos mantêm lucros recordes, o povo sofre com a carestia e a miséria. Estudo publicado recentemente pelo Insper comprova que a desigualdade social voltou a crescer a partir de 2016. E exatamente quando mais necessário é o Bolsa Família vemos seu fim numa canetada em uma medida provisória.

A pergunta todos nós ouvimos. Vocês querem trocar um programa permanente e exitoso de transferência de renda por um provisório e que não terá os mesmos resultados e nem a mesma quantidade de beneficiários? Fora da cabine a resposta é uma só: NÃO!

* Jandira Feghali é deputada federal pelo PCdoB-RJ e vice-líder da Minoria na Câmara. Artigo publicado originalmente no O DIA