Ele evitou responder diretamente as perguntas sobre sua parcialidade no julgamento do ex-presidente Lula, revelada nas conversas com o procurador Deltan Dellagnol, e em todo momento ressaltou os feitos da operação Lava Jato.

Sergio Moro também tentou desqualificar a todo o momento o Intercept Brasil, alegando a forma criminosa como foram obtidas as conversas. Esse roteiro, feito com treinamento ou não, chegou a irritar alguns senadores como Fabiano Contarato (Rede-ES), que foi eleito tendo como bandeira a defesa da Lava jato.

O parlamentar questionou o ex-juiz se houve quebra do princípio da isonomia no julgamento de Lula e ainda se ele havia conversado com a defesa do ex-presidente como conversou com os acusadores.

“Senador, eu sei que não é essa sua intenção, mas me espanta falar em mérito da operação Lava Jato, que nós temos que preservar os esforços anticorrupção, mas, pelo que eu entendi da sua fala, o senhor defende a anulação de tudo então, todas as condenações, todas as denúncias, devolver o dinheiro para Renato Duque, Paulo Roberto Costa”, respondeu Moro.

“O que eu estou questionando, e não estou entrando nem no mérito do diálogo, é que houve a quebra do princípio da imparcialidade quando o juiz, que tem que ser imparcial, manteve contato por inúmeras vezes com aquele que tem interesse cem por cento numa eventual sentença condenatória transitada em julgado. É isso só que eu estou questionando. Então, não ponha palavras na minha boca”, devolveu o senador.

O senador Weverton Rocha (PDT) também foi direto na pergunta: “No sistema processual penal acusatório, não deveria o juiz manter-se equidistante das partes? É comum ou normal o magistrado sugerir o modo como o órgão acusador deve se desincumbir das diligências investigativas?”.

“É difícil comentar conteúdo sem ter a memória exata. Por exemplo, se diz lá: ´Olha, operação, operação(…)´ Isso são decisões já deferidas. Juiz defere prisão, busca e apreensão. São várias operações no âmbito da Operação Lava Jato, e é normal uma discussão de logística”, respondeu.

O senador Rogério Carvalho (PT-SE) também atacou a linha de depoimento do ministro. “Em primeiro lugar, não está em discussão aqui o combate à corrupção e nem é propriedade de nenhum governo e de nenhuma pessoa em particular a defesa do combate à corrupção”, lembrou antes de fazer questionamentos.

"O que está em discussão aqui é se Vossa Excelência cometeu ou não o crime da imparcialidade, da seletividade. O que está em discussão aqui é se Vossa Excelência coordenou um conluio em nome do estado para perseguir em favor dos seus interesses políticos”, lembrou.

Num tom mais pesado, o senador Humberto Costa (PE), líder do PT naquela Casa, sugeriu o ex-juiz pedir demissão do cargo de ministro.

“Vossa Excelência, intencionalmente ou não, enganou milhões de brasileiros, tenha a humildade, primeiro, de pedir a sua demissão do Ministério da Justiça. Não cabe uma pessoa com as acusações graves como essas ser o chefe da Polícia Federal. E, segundo, peça desculpa ao povo brasileiro”, afirmou o senador.

“Senador, desculpe-me. As afirmações são bastante ofensivas. Eu vou declinar de responder”, respondeu Moro.

Comunistas repercutem depoimento

Vice-líder do PCdoB na Câmara, o deputado Márcio Jerry (MA) avaliou que Moro está fugindo das questões essenciais e tentando se proteger no tema do combate à corrupção. “Não vai sustentar tal engodo até o fim. O conluio está muito bem caracterizado, portanto graves ilegalidades e absoluta traição ao Judiciário”, disse o parlamentar.

Parlamentares comunistas acreditam que não há mais dúvidas sobre a parcialidade de Sérgio Moro. “Inicialmente, ele afirmou que os diálogos eram "conversa normal", depois falou em "descuido" e até já se negou a atestar a veracidade dos diálogos divulgados. Nosso pedido: renuncia Moro”, afirmou a vice-líder da Minoria, deputada Alice Portugal (PCdoB-BA).

Em postagem no Twitter, a líder da Minoria, Jandira Feghali (PCdoB-RJ), reforçou o entendimento que Moro cometeu um crime: “Moro, não é comum um juiz negociar testemunhas e orientar a procuradoria. Cinismo! O senhor cometeu um crime! Violou a democracia!”

*Com informações do PCdoB na Câmara.