No último domingo (2), PCdoB e PPL oficializaram a fusão das legendas em ato político realizado em São Paulo. A união foi aprovada por aclamação e deve fortalecer a resistência democrática e empreender firme oposição ao governo de Jair Bolsonaro.

No dia anterior (1º), o Congresso Extraordinário do PPL aprovou sua incorporação ao PCdoB e indicou também um elenco de 40 lideranças para compor a direção nacional comunista. Por sua vez, a direção do PCdoB aprovou a incorporação do PPL e convocou um Congresso Extraordinário para 17 de março do próximo ano, que terá como pauta a eleição de um novo Comitê Central para concluir o processo. Nesse sentido, foi aprovado uma nominata de 170 nomes, dos quais 130 são os atuais membros do PCdoB e 40 indicados pelo PPL. Ela será objeto de deliberação dos congressos das duas legendas, que se reunirão em sessão conjunta em 17 de março, conforme dispõe a lei.

Em sua fala, Ubiraci Dantas, o Bira, disse que agora seu partido se chama Partido Comunista do Brasil, enfatizando que sua constatação era motivo de alegria no coração. Para ele, as duas legendas deram um passo significativo e ficaram mais fortes para defender a democracia e o país. Ele concluiu puxando Hino da Independência, com o refrão “ou ficar a pátria livre, ou morrer pelo Brasil” repetido com entusiasmo por todos.

Orlando Silva, líder da bancada do PCdoB na Câmara dos Deputados e presidente do Partido no estado de São Paulo, saudou a união das duas correntes revolucionárias e lembrou das atividades conjuntas, especialmente no movimento estudantil. Segundo ele, o ato passava a sensação de um “encontro de amigos”.

O deputado comunista disse ainda que a incorporação do PPL ao PCdoB é um “reencontro de duas correntes políticas com uma profunda identidade com a luta dos trabalhadores, que brotou nas batalhas pela defesa da democracia”. E comparou o encontro com a confluência do rio Negro com o rio Solimões, que produz o grandioso Rio Amazonas.

União com muita verdade

O presidente do PPL, Sérgio Rubens, afirmou que agora ocorre um processo para enfrentar uma situação de restrição à democracia. E destacou que, como naquele tempo de luta contra o regime militar, agora existe a disposição de se levar às últimas consequências o combate aos retrocessos anunciados pelo futuro governo do presidente eleito Jair Bolsonaro. Para Sérgio Rubens, é inaceitável qualquer retrocesso nas conquistas democráticas, uma disposição que pode ser encontrada com firmeza no PPL e no PCdoB. Essa incorporação, enfatizou, tem o objetivo de dotar o povo brasileiro de um instrumento de luta condizente com a realidade que se anuncia. 

Segundo ele, não se pode permitir o desvio de uma ação política decidida para barrar a progressão da extrema direita. Para o presidente do PPL, esse grupo tomou o governo, não o poder. “Na Câmara dos Deputados, no Senado Federal, nas entidades populares e nas ruas haverá lutas em defesa dos direitos democráticos e da preservação da soberania da nação, em especial da Petrobras”, disse. Sérgio Rubens criticou a subserviência de expoentes do novo governo aos Estados Unidos e reforçou a importância de uma frente ampla contra o que ele chamou de setores mais reacionários do que os neoliberais. E concluiu afirmando que o PPL, unido, incorporado ao PCdoB, “vai zelar por essa unidade com muito carinho, com muito amor e com muita verdade”. 

Marco histórico pela democracia

A presidenta nacional do PCdoB, deputada Luciana Santos (PE), iniciou a sua intervenção destacando que aquele ato político era um marco histórico, num momento de derrota estratégica com a ascensão da extrema direita ao governo. Segundo ela, “isso significa o fim de um ciclo democrático com a forte ameaça de uma nova ordem de sentido antidemocrático”. Esse cenário, afirmou, impõe aos revolucionários do PPL e do PCdoB essa união para enfrentá-lo. Para a presidenta do PCdoB, o que ocorre no Brasil é parte de um fenômeno mundial, com a extrema direita assumindo governos em muitos e países e demonstrando forças em outros. 

Ela lembrou também que a extrema direita no Brasil tem tradição, como foi o caso a Ação Integralista que atuou com certa força na década de 1930 e os movimentos golpistas que se organizaram no pré-1964. E agregou que outro fator determinante para esse cenário é a crise econômica do capitalismo, deflagrada em 2007-2008, causando desemprego em massa e políticas de abolição de direitos sociais e trabalhistas. Luciana Santos afirmou que esse sistema de governo não combina com democracia e precisa recorrer ao autoritarismo. 

Existem outras causas internas, diagnosticou, entre elas erros políticos do ciclo em que a esquerda esteve no poder, dos quais é necessário tirar lições. Há ainda a corrente de pensamento de direita, que nesse processo de golpe e eleições se manifestou com força. Segundo Luciana Santos, as classes dominantes brasileiras nunca aceitaram qualquer possibilidade de setores da esquerda fazerem uma agenda voltada aos interesses dos trabalhadores. 

Ela citou que em 2013 as manifestações que ocorreram no país começaram por questões justas, mas caíram no domínio do processo golpista, cooptadas pelos mecanismos da chamada “guerra híbrida”, com o amplo uso da internet. As eleições de 2018 ocorreram nesse contexto, com o agravante de uma crise econômica grave, iniciada ainda no governo da presidente Dilma Rousseff, com alto índice de desemprego. A candidatura Bolsonaro surgiu nesse ambiente, falsamente declarada como sendo do antissistema e da antipolítica, por ser ele um deputado federal com longa carreira parlamentar. 

Para a presidenta do PCdoB, Bolsonaro fará um governo de muitas contradições, com núcleos que já batem cabeças e numa perspectiva de agravamento da crise econômica mundial. De acordo com ela, há a possibilidade de uma precária retomada da economia, o chamado “voo de galinha”, mas a sua agenda certamente vai fazer muito mal ao Brasil. Será a mera continuidade e o agravamento da política que vem sendo implantada pelo governo do presidente golpista Michel Temer. 

Luciana Santos enfatizou que nesse cenário a esquerda deve ser a vanguarda da resistência. As atitudes de subserviência aos Estados Unidos são outro fator que indica a necessidade de um firme combate à agenda de Bolsonaro. Mesmo a guerra comercial do governo de Donald Trump com China terá impacto no Brasil, que tem no gigante asiático seu principal parceiro comercial. Para ela, as medidas ultraliberais na economia e retrógadas nos costumes serão enfrentadas nas ruas, nas redes sociais, nos parlamentos e nos movimentos populares. “Vai ter luta”, destacou. 

A presidenta do PCdoB concluiu lembrando a trajetória do PPL, oriundo do Movimento Revolucionário 8 de Outubro (MR-8), que homenageia a data da morte de Che Guevara na Bolívia, em 1967, que combateu a ditadura militar com a luta armada e formou importantes lideranças revolucionárias, como seu líder histórico Cláudio Campos e o atual presidente do PPL, Sérgio Rubens. Lembrou também a tradição revolucionária e a luta pelo socialismo das duas siglas. 

O evento terminou com os presentes entusiasmados pelos encaminhamentos e pelas perspectivas de início de uma promissora etapa de lutas patrióticas e democráticas.