O novo ministro da Justiça, Anderson Torres, anunciou, nesta terça-feira (6), a troca no comando da Polícia Federal (PF). Em rede social, o delegado Paulo Maiurino foi anunciado como novo diretor-geral da PF. Estratégico para Bolsonaro, o comando da PF foi alvo da crise entre o presidente e o então ministro da Justiça Sergio Moro em 2020. Ao sair do governo, Moro denunciou tentativas de Bolsonaro de acabar com a autonomia da Polícia Federal.

Deputados do PCdoB alertaram para as trocas, que atingiram também o comando da Polícia Rodoviária Federal (PRF). Silvinei Vasques será o novo diretor-geral da PRF. Segundo os parlamentares, as mudanças podem atender aos interesses da família presidencial.

“É preciso prestar muita atenção aos movimentos que Bolsonaro está fazendo para atrelar a PF aos seus interesses, aos interesses da sua família. Logo agora que ele tem todos os seus filhos investigados, ele troca o comando do Ministério da Justiça, coloca um delegado da PF, troca inclusive a direção da PF e da PRF. Eu pergunto que isenção esses novos delegados vão ter para investigar os filhos do Bolsonaro com tanta mudança que ele tá fazendo na PF? A primeira mudança que ele fez na PF, ele disse que não aceitava que perseguissem seus filhos. O que ele chama de perseguição nós chamamos de investigação”, afirmou a vice-líder do PCdoB na Câmara, deputada Perpétua Almeida (AC).

A PF mantém investigações em torno de aliados e da família Bolsonaro. A mais recente, aberta no mês de abril, envolve o filho mais novo do presidente, Jair Renan. O filho 04 é investigado por suposto tráfico de influência por meio da Bolsonaro Jr Eventos e Mídia, empresa aberta em 2020. O inquérito foi instaurado a partir de um pedido feito pela Procuradoria da República no Distrito Federal.

Para o deputado Orlando Silva (PCdoB-SP), “não há um movimento do governo que vise o interesse público, tudo é para aparelhar instituições de Estado”. E continuou: “Será que a blindagem aos crimes da famiglia tá pouca?”, questionou Silva em sua conta no Twitter.

Filhos na mira da PF

Reportagens da revista Veja e do jornal Folha de S.Paulo de 2020 revelaram que Renan visitou as instalações de um grupo empresarial do Espírito Santo que comercializa material de construção. Logo depois, eles doaram um carro elétrico a Renan, avaliado em R$ 80 mil, e conseguiram apresentar um projeto ao ministro do Desenvolvimento Regional, Rogério Marinho. Depois disso, foi a vez de denúncia sobre a cobertura audiovisual da festa de inauguração da empresa de Renan. Ela foi realizada gratuitamente por uma produtora de conteúdo digital e comunicação corporativa, a Astronautas Filmes, que também presta serviços ao governo federal.

Somente no ano passado, a empresa recebeu ao menos R$ 1,4 milhão do governo Bolsonaro. A empresa prestou serviços para os ministérios da Educação, Saúde e Casa Civil.

Já o vereador Carlos Bolsonaro (Republicanos-RJ) e o deputado Eduardo Bolsonaro (PSL-SP) estão na mira da PF no inquérito dos atos antidemocráticos envolvendo os ataques ao Supremo Tribunal Federal.

O senador Flávio Bolsonaro (Republicanos-RJ), não ficou de fora. Já foi alvo de um procedimento sobre falsidade ideológica eleitoral por suposta ocultação de patrimônio na declaração de bens à Justiça eleitoral em 2014. A PF investigou se ele teria declarado um imóvel pelo valor abaixo do real, mas acabou arquivando o caso.

O caso das “rachadinhas”, no entanto, não estavam a cargo da PF, embora o órgão também tocasse uma investigação que envolvia personagens em comum, como por exemplo, o assessor de Flávio Fabrício Queiroz.