Depois de usar uma expressão chula para criticar o uso de máscaras de proteção contra a Covid-19, o deputado Eduardo Bolsonaro (PSL-SP) voltou às redes sociais para causar novo mal-estar. Desta vez, com um post feito nesta quinta-feira (11), em sua conta no Twitter, de uma suposta carta suicida e do cadáver do trabalhador endividado para criticar o lockdown adotado em vários estados como medida para conter o avanço do novo coronavírus, que já vitimou mais de 270 mil pessoas no Brasil.

A publicação gerou repúdio nas redes e no Parlamento, além de denúncias ao Twitter sobre o conteúdo divulgado pelo filho do presidente. A repercussão negativa fez o parlamentar apagar a postagem, mas as críticas permanecem.

A deputada Alice Portugal (PCdoB-BA) afirmou que a atitude do parlamentar é absurda e desumana. “Ler e divulgar uma carta de suicídio como "estratégia" para criticar o isolamento social e medidas sanitárias enquanto morrem mais de 2000 pessoas por dia é um absurdo! Lembrando que no dia anterior, o 03 usou uma expressão chula num vídeo sobre máscaras! Desumanos!”, afirmou.

Eduardo Bolsonaro repetiu o gesto do pai, o presidente Jair Bolsonaro, que, mais cedo, na transmissão semanal ao vivo nas redes sociais, leu o conteúdo da carta, ao criticar as restrições impostas por governos de estados para conter a propagação do novo coronavírus. Na live, Bolsonaro voltou a atacar "a política do fique em casa”.

A deputada Jandira Feghali (PCdoB-RJ) também repudiou o caso e o negacionismo do governo na gestão da pandemia em sessão virtual da Câmara. Para ela, o comportamento da família Bolsonaro é criminoso.

“Venho expressar aqui a minha indignação, revolta, o meu asco, nojo do comportamento criminoso não apenas do presidente da República, que numa live deu risada ao falar de suicídio, como se suicídio decorresse de lockdown, para atacar as posições da ciência, mas também, particularmente do seu filho, o deputado Eduardo Bolsonaro. Depois de desqualificar a questão do uso da máscara de forma absolutamente desprezível e agressiva em suas redes sociais e numa live, postou em suas redes sociais a foto de uma pessoa que se suicidou e que nada tem a ver com lockdown. Isso é um desrespeito com a vítima, com sua família e com todas as famílias que já perderam pessoas para o suicídio. É um desrespeito, inclusive, com todos os profissionais de saúde mental que lidam com transtornos desse tipo. E é, na verdade, um desrespeito à ciência o estímulo à morte. O Congresso Nacional tem que parar com esse comportamento indutor da morte do deputado Eduardo Bolsonaro. Isso é crime!”, denunciou.

A vice-líder da bancada, deputada Perpétua Almeida (AC), também se manifestou. Em comentário no post de Eduardo Bolsonaro, antes que a publicação fosse apagada, a parlamentar declarou: “Qualquer cidadão de bom senso não faria a publicação. Lamento pela vida deste trabalhador. Mas seu pai, o presidente, é o único culpado, porque não topou estender o auxílio emergencial que botaria comida na mesa dele e se recusou a comprar vacinas que evitariam as mais de duas mil mortes por dia”, afirmou.

Entidades como o Centro de Valorização da Vida (CVV) desaconselham a divulgação de cartas, bilhetes e fotos de suicidas. "O teor dessas mensagens não deve ser divulgado", diz uma cartilha do CVV. A Organização Mundial da Saúde (OMS) também não recomenda tal divulgação.