Desde que assumiu a Presidência da República, Bolsonaro e sua equipe trabalham pelo desmonte das políticas ambientais. Aumento do desmatamento na Amazônia, ataques a ONGs, desprezo por financiamento internacional, desmonte dos órgãos de fiscalização, incentivo – mesmo que indireto – às ações ilegais de madeireiros e garimpeiros são algumas das ações do governo bolsonarista na área ambiental. No entanto, na Cúpula do Clima, organizada pelo presidente norte-americano, Joe Biden, Bolsonaro assumiu outro tom e, como de praxe, mentiu sobre as ações de seu governo.

Em discurso nesta quinta-feira (22), aniversário da famigerada fala do seu ministro do Meio Ambiente sobre aproveitar a pandemia para passar a boiada, Bolsonaro afirmou ter determinado a duplicação dos recursos destinados para ações de fiscalização ambiental.

"Medidas de comando e controle são parte da resposta. Apesar das limitações orçamentárias do governo, determinei o fortalecimento dos órgãos ambientais, duplicando os recursos destinados às ações de fiscalização", disse.

Segundo Bolsonaro, o Brasil "está na vanguarda do enfrentamento do aquecimento global" e ressaltou que o país participou com menos de 1% das emissões históricas de gases poluentes. "No presente, respondemos por menos de 3% das emissões globais anuais."

Frustrando uma das expectativas dos americanos, Bolsonaro não anunciou novas NDCs (Contribuição Nacionalmente Determinada, meta de descarbonização assumida no âmbito do Acordo de Paris).

Ele repetiu as metas já assumidas pelo Brasil, de cortar emissões em 37% até 2025 e em 43% até 2030.
Bolsonaro repetiu ainda o compromisso assumido em carta enviada a Biden em 14 de março, de reduzir o desmatamento ilegal no Brasil até 2030.

No último dia 9, no entanto, o Instituto de Pesquisas Espaciais (Inpe) informou que os alertas de desmatamento na Amazônia bateram recorde em março. Ao todo, foram 367, km². Ainda conforme o Inpe, o desmatamento na Amazônia em 2020 foi mais de três vezes superior à meta proposta pelo Brasil para a Convenção do Clima.

Bolsonaro fez também um apelo por contribuições internacionais, na linha do que vem defendendo o ministro Ricardo Salles. "Diante da magnitude dos obstáculos, inclusive financeiros, é fundamental poder contar com a contribuição de países, empresas, entidades e pessoas dispostos a atuar de maneira imediata, real e construtiva na solução desses problemas", discursou. "Da mesma forma, é preciso haver justa remuneração pelos serviços ambientais prestados por nossos biomas ao planeta, como forma de reconhecer o caráter econômico das atividades de conservação."

Para a vice-líder da Oposição, deputada Perpétua Almeida (AC), Bolsonaro mente sem pudores. “O que o presidente Bolsonaro de fato está querendo é botar a mão nos bilhões de dólares que o presidente Biden oferece aos brasileiros, caso queiram cuidar de fato da questão ambiental”, criticou.

A parlamentar disse ainda não acreditar que o governo federal consiga zerar o desmatamento ilegal até 2030. Para ela, o antiambientalismo de Salles tem prejudicado as empresas brasileiras.

No último dia 7, um grupo de 280 companhias do agronegócio e do setor financeiro pediu mudanças nos rumos da política ambiental brasileira. Os empresários têm receio de perder mercado, sobretudo no exterior, por causa da imagem negativa do Brasil, que hoje é visto como um vilão ambiental. Algumas ações de boicote já acontecem com queda em investimentos.

Gestoras européias também já ameaçaram desinvestir no Brasil caso o desmatamento na floresta amazônica não diminua. Perpétua avalia que é mais fácil o governo zerar a floresta amazônica do que zerar o desmatamento ilegal até 2030. “Quem tem um antiministro de Meio Ambiente não pode prometer que vai zerar o desmatamento na Amazônia. O que nós vimos até aqui foram as poses do antiministro à frente de toras e toras de madeiras ilegais, que ele tentava regularizar, inclusive sendo investigado pela Polícia Federal”, ressaltou.

De país influente a vilão

Para o líder do PCdoB na Câmara, deputado Renildo Calheiros (PE), Bolsonaro continua sua prática de “dizer uma coisa e fazer outra”. “Como se diz no popular, "afinou", mudou o tom na Cúpula do Clima. Tentou melhorar sua imagem ao definir metas para o meio ambiente. É difícil acreditar, conhecemos a peça. Esse governo se contrapôs a políticas ambientais mundiais nos últimos dois anos. A gestão do governo Bolsonaro é uma das piores. O desmatamento cresceu. O presidente diz que fortaleceu órgãos de controle, mas o Ibama está paralisado por instrução normativa do ministro Ricardo Salles, que inviabiliza a fiscalização. Isso nunca ocorreu. Está passando a boiada?”, questionou.

Renildo acrescentou que Bolsonaro “está em uma situação de constrangimento diante de líderes mundiais”. “O Brasil passou de país influente a vilão da preservação ambiental. Nenhum discurso justifica a exoneração do delegado da PF, Alexandre Saraiva, chefe da maior operação de apreensão de madeira ilegal”, destacou o líder da bancada do PCdoB, lembrando da recente demissão, após denúncia do ministro ao Supremo Tribunal Federal pelo ex-delegado da PF no Amazonas. Na ação, Saraiva denunciou Salles por beneficiamento de madeireiros ilegais na Amazônia.

O vice-líder da bancada, deputado Orlando Silva (SP), corrobora com a visão do desprestígio brasileiro na reunião. “Detalhe pitoresco do discurso mentiroso de Bolsonaro na Cúpula do Clima: Joe Biden saiu da sala quando o brasileiro foi falar. Tipo, vou aproveitar que o pária mundial vai falar para tirar a água do joelho. É significativo do grau de desmoralização do país perante o mundo”, declarou.

A vice-líder da Minoria, deputada Jandira Feghali (RJ) lembrou a carta assinada por políticos, lideranças indígenas, movimentos sociais, acadêmicos, artistas que denuncia a gestão desastrosa de Jair Bolsonaro e ainda critica a tentativa de acordo entre os EUA e Brasil, a portas fechadas, para a Amazônia. Jandira cobrou ainda que o Parlamento tome uma atitude em relação ao desgoverno Bolsonaro.

“O presidente não vai conseguir esconder a carta que muitos de nós assinamos, encaminhada inclusive à ONU, falando de todos os crimes ambientais e de todos os crimes contra os órgãos ambientais e seus servidores, como a própria demissão do Superintendente da Polícia Federal do Amazonas. Aqui no Brasil, nós precisamos ter uma atitude radical, como Congresso Nacional e como o povo brasileiro, em relação a esse governo. Nós precisamos tomar uma atitude e impedir que esse governo continue”, declarou.