Não há dúvida de que ele mentiu quando questionado sobre interferência na composição da bancada acusatória do processo do triplex contra o ex-presidente Lula. Esse é o teor das novas conversas entre Moro e o coordenador da Operação Lava Jato Deltan Dallagnol.
Os trechos foram divulgados pelo programa “O É da Coisa”, de Reinaldo Azevedo, nesta quinta-feira (20).

Os diálogos mostram interferência do atual ministro de Bolsonaro no processo contra o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Em conversas divulgadas pelo The Intercept Brasil anteriormente, Moro comentava sobre a atuação da procuradora Laura Tessler com Deltan Dallagnol, coordenador da Operação Lava Jato e também procuradora do Ministério Público Federal.

“Prezado, a colega Laura Tessler de vocês é excelente profissional, mas para inquirição em audiência, ela não vai muito bem. Desculpe dizer isso, mas com discrição, tente dar uns conselhos a ela, para o próprio bem dela. Um treinamento faria bem. Favor manter reservada essa mensagem”, escreveu Moro a Deltan Dallagnol.

Moro havia sido questionado sobre isso em sabatina na Comissão de Constituição e Justiça do Senado nesta quarta-feira (19), mas negou interferência. No entanto, o desenrolar das conversas que vieram à tona nesta quinta mostra que isso não é verdade, pois 17 minutos após a mensagem do ex-juiz, Dallagnol teria encaminhado trecho da conversa ao procurador Carlos Fernando, que respondeu: “vamos ver como está a escala” e “fazer uma estratégia de inquisição”.

Leia as conversas na íntegra

12:42:34 Deltan Recebeu a msg do moro sobre a audiência tb?
13:09:44 Não. O que ele disse?
13:11:42 Deltan Não comenta com ninguém e me assegura que teu telegram não tá aberto aí no computador e que outras pessoas não estão vendo por aí, que falo
13:12:28 Deltan (Vc vai entender por que estou pedindo isso)
13:13:31 Ele está só para mim.
13:14:06 Depois, apagamos o conteúdo.
13:16:35 Deltan Prezado, a colega Laura Tessler de vcs é excelente profissional, mas para inquirição em audiência, ela não vai muito bem. Desculpe dizer isso, mas com discrição, tente dar uns conselhos a ela, para o próprio bem dela. Um treinamento faria bem. Favor manter reservada essa mensagem.
13:17:03 Vou apagar, ok?
13:17:07 Deltan apaga sim 13:17:26 Apagado.
13:17:26 Deltan Vamos ver como está a escala e talvez sugerir que vão 2, e fazer uma reunião sobre estratégia de inquirição, sem mencionar ela
13:18:11 Por isso tinha sugerido que Júlio ou Robinho fossem também. No do Lula não podemos deixar acontecer.
13:18:32 Apaguei

A preocupação de Deltan Dallagnol para que as conversas fossem apagadas mostra que o procurador tinha consciência sobre a irregularidade dos fatos. E mais: dois meses após o diálogo, quando Lula foi depor a Sérgio Moro, no dia 10 de maio de 2017, Laura Tessler não estava presente. No lugar dela, a acusação foi feita por Júlio Noronha e Roberson Pozzobon, respectivamente, Júlio e Robinho, segundo revelou Reinaldo Azevedo.

“Reinaldo Azevedo acaba de mostrar mais bombas de Moro. O ex-juiz escolheu quais procuradores participariam da primeira audiência com Lula, ilegal e criminosos. Teceu estratégia contra a defesa, mais uma vez farsa. E ainda mentiu no Senado”, disse no Twitter  a deputada Jandira Feghali (PCdoB-RJ), líder da Minoria na Câmara dos Deputados.

Segundo o deputado Orlando Silva (PCdoB-SP), Sérgio Moro admitiu que entrega o cargo caso sejam apontadas irregularidades em suas condutas. “Ora, a conduta até agora revelada é gravíssima, já que parcial e combinada com a acusação. Já é um escândalo! O ministro não aceita enxergar o óbvio. Aguardemos os próximos capítulos”, afirmou.

O deputado Márcio Jerry (PCdoB-MA) mandou um recado ao ministro: “Cada dia ficando mais feio e complicado pra ti”.

O líder do PT na Câmara dos Deputados, Paulo Pimenta, cobrou a renúncia do ministro. “Afinal, Moro vai renunciar ao cargo, após ter dito que deixaria o posto se aparecessem irregularidades? Está mais do que provado que ele atuou em conluio com Deltan Dallagnol à frente da Lava Jato”, diz.

O ex-deputado federal Wadih Damous (PT) afirmou que ao mentir no Senado, Moro quebrou o decoro e manchou a dignidade do cargo. Isso é crime de responsabilidade, de acordo com a Lei 1079/50.

*Da Redação com informações da Agência PT.