Sérgio Moro mentiu no depoimento que fez na CCJ do Senado
Não há dúvida de que ele mentiu quando questionado sobre interferência na composição da bancada acusatória do processo do triplex contra o ex-presidente Lula. Esse é o teor das novas conversas entre Moro e o coordenador da Operação Lava Jato Deltan Dallagnol.
Os trechos foram divulgados pelo programa “O É da Coisa”, de Reinaldo Azevedo, nesta quinta-feira (20).
Os diálogos mostram interferência do atual ministro de Bolsonaro no processo contra o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Em conversas divulgadas pelo The Intercept Brasil anteriormente, Moro comentava sobre a atuação da procuradora Laura Tessler com Deltan Dallagnol, coordenador da Operação Lava Jato e também procuradora do Ministério Público Federal.
“Prezado, a colega Laura Tessler de vocês é excelente profissional, mas para inquirição em audiência, ela não vai muito bem. Desculpe dizer isso, mas com discrição, tente dar uns conselhos a ela, para o próprio bem dela. Um treinamento faria bem. Favor manter reservada essa mensagem”, escreveu Moro a Deltan Dallagnol.
Moro havia sido questionado sobre isso em sabatina na Comissão de Constituição e Justiça do Senado nesta quarta-feira (19), mas negou interferência. No entanto, o desenrolar das conversas que vieram à tona nesta quinta mostra que isso não é verdade, pois 17 minutos após a mensagem do ex-juiz, Dallagnol teria encaminhado trecho da conversa ao procurador Carlos Fernando, que respondeu: “vamos ver como está a escala” e “fazer uma estratégia de inquisição”.
Leia as conversas na íntegra
12:42:34 Deltan Recebeu a msg do moro sobre a audiência tb?
13:09:44 Não. O que ele disse?
13:11:42 Deltan Não comenta com ninguém e me assegura que teu telegram não tá aberto aí no computador e que outras pessoas não estão vendo por aí, que falo
13:12:28 Deltan (Vc vai entender por que estou pedindo isso)
13:13:31 Ele está só para mim.
13:14:06 Depois, apagamos o conteúdo.
13:16:35 Deltan Prezado, a colega Laura Tessler de vcs é excelente profissional, mas para inquirição em audiência, ela não vai muito bem. Desculpe dizer isso, mas com discrição, tente dar uns conselhos a ela, para o próprio bem dela. Um treinamento faria bem. Favor manter reservada essa mensagem.
13:17:03 Vou apagar, ok?
13:17:07 Deltan apaga sim 13:17:26 Apagado.
13:17:26 Deltan Vamos ver como está a escala e talvez sugerir que vão 2, e fazer uma reunião sobre estratégia de inquirição, sem mencionar ela
13:18:11 Por isso tinha sugerido que Júlio ou Robinho fossem também. No do Lula não podemos deixar acontecer.
13:18:32 Apaguei
A preocupação de Deltan Dallagnol para que as conversas fossem apagadas mostra que o procurador tinha consciência sobre a irregularidade dos fatos. E mais: dois meses após o diálogo, quando Lula foi depor a Sérgio Moro, no dia 10 de maio de 2017, Laura Tessler não estava presente. No lugar dela, a acusação foi feita por Júlio Noronha e Roberson Pozzobon, respectivamente, Júlio e Robinho, segundo revelou Reinaldo Azevedo.
“Reinaldo Azevedo acaba de mostrar mais bombas de Moro. O ex-juiz escolheu quais procuradores participariam da primeira audiência com Lula, ilegal e criminosos. Teceu estratégia contra a defesa, mais uma vez farsa. E ainda mentiu no Senado”, disse no Twitter a deputada Jandira Feghali (PCdoB-RJ), líder da Minoria na Câmara dos Deputados.
Segundo o deputado Orlando Silva (PCdoB-SP), Sérgio Moro admitiu que entrega o cargo caso sejam apontadas irregularidades em suas condutas. “Ora, a conduta até agora revelada é gravíssima, já que parcial e combinada com a acusação. Já é um escândalo! O ministro não aceita enxergar o óbvio. Aguardemos os próximos capítulos”, afirmou.
O deputado Márcio Jerry (PCdoB-MA) mandou um recado ao ministro: “Cada dia ficando mais feio e complicado pra ti”.
O líder do PT na Câmara dos Deputados, Paulo Pimenta, cobrou a renúncia do ministro. “Afinal, Moro vai renunciar ao cargo, após ter dito que deixaria o posto se aparecessem irregularidades? Está mais do que provado que ele atuou em conluio com Deltan Dallagnol à frente da Lava Jato”, diz.
O ex-deputado federal Wadih Damous (PT) afirmou que ao mentir no Senado, Moro quebrou o decoro e manchou a dignidade do cargo. Isso é crime de responsabilidade, de acordo com a Lei 1079/50.
*Da Redação com informações da Agência PT.