O ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo, deve ser convocado para explicar na Câmara a carta em que repreende a embaixada chinesa pelas críticas feitas ao deputado Eduardo Bolsonaro (PSL-SP), após o parlamentar ter acusado o país de espionagem na implantação da tecnologia 5G em suas redes sociais. O requerimento foi apresentado pela líder do PCdoB, deputada Perpétua Almeida (AC), esta semana.

Na carta, enviada na última semana, o Itamaraty afirmou que “não é apropriado aos agentes diplomáticos da República Popular da China no Brasil tratarem dos assuntos da relação Brasil-China através das redes sociais”.

“Os canais diplomáticos estão abertos e devem ser utilizados. (…) O tom e o conteúdo ofensivo e desrespeitoso da referida 'Declaração' prejudicam a imagem da China junto à opinião pública brasileira”, disse o Ministério das Relações Exteriores, em carta enviada aos representantes do governo chinês no Brasil na quarta-feira (25).

Para a líder do PCdoB na Câmara, deputada Perpétua Almeida (AC), a carta é prova de que o Itamaraty “virou um braço ideológico dos devaneios da família Bolsonaro”. “Estamos convocando o ministro Ernesto Araújo para que ele explique essa “diplomacia” de prejudicar o Brasil em suas históricas relações”, afirmou que preside a Frente Parlamentar Mista de Fortalecimento da Cooperação entre os países do Brics.

No requerimento de convocação, Perpétua afirma que é indispensável trazer à reflexão as implicações que o texto enviado pelo governo brasileiro pode trazer. “O texto nos passa a ideia de que parte dos membros da diplomacia brasileira, ao contrário de estarem a serviço da defesa dos interesses do Brasil, entra na verdade em uma guerra diplomática ideológica a serviço de interesses diversos à construção e manutenção das boas relações entre Brasil China. É inadmissível continuar neste viés que desconstrói o que muito já se fez e se construiu na histórica relação de boa amizade estabelecida com a República Popular da China. O país precisa seguir os princípios da relação amistosa e de defesa da paz nas suas relações com outros países”, descreve trecho do requerimento.

Na segunda-feira (23), Eduardo Bolsonaro escreveu em suas redes sociais que o Brasil endossou iniciativa dos Estados Unidos para manter a segurança da tecnologia 5G “sem espionagem da China”.

“O governo Jair Bolsonaro declarou apoio à aliança Clean Network, lançada pelo governo Donald Trump, criando uma aliança global para um 5G seguro, sem espionagem da China. Isso ocorre com repúdio a entidades classificadas como agressivas e inimigas da liberdade, a exemplo do Partido Comunista da China”, completou o deputado.

No dia seguinte, o post foi apagado. Ainda assim, a embaixada chinesa no Brasil respondeu e defendeu que Eduardo e outros críticos do país asiático abandonassem a retórica da extrema direita norte-americana, para evitar “consequências negativas”. A Embaixada da China lembrou ainda que as transações comerciais entre os dois países representam 35% das exportações brasileiras, o que representou até outubro uma movimentação de US$ 58,459 bilhões.

Para o deputado Orlando Silva (PCdoB-SP), “o terraplanismo diplomático vai causar prejuízos bilionários ao país”. “Esses boçais estão brincando com coisa séria. São aprendizes de jogador de War lidando com gente preparada. O terraplanismo diplomático vai causar prejuízos bilionários ao país. Até quando setores políticos e econômicos vão ficar inertes? Hora de agir”, afirmou em sua conta no Twitter.

Além da convocação de Araújo, os parlamentares estão se articulando para cobrar o afastamento de Eduardo Bolsonaro da presidência da Comissão de Relações Exteriores da Câmara.

Esta não é a primeira vez que Eduardo protagoniza um choque com a embaixada chinesa em Brasília. Em março, ele comparou a pandemia de coronavírus ao acidente nuclear de Chernobyl, na Ucrânia, em 1986.

As autoridades, à época submetidas a Moscou, ocultaram a dimensão dos danos e adotaram medidas de emergência que custaram milhares de vidas. A associação feita pelo parlamentar em março gerou duras críticas do embaixador da China no Brasil, Yang Wanming.

O país também já foi alvo de ataques do ex-ministro da Educação Abraham Weintraub e do próprio presidente da República, Jair Bolsonaro.