A reunião do G-20 revelou o grau de isolamento vivido por Bolsonaro que foi ignorado pelos líderes das 20 maiores economias do mundo no encontro realizado em Roma no final de semana. Para se ter ideia, o presidente não participou da foto dos chefes de Estado na Fontana di Trevi. Restou a ele passear pelas ruas da capital italiana onde foi protagonista de cenas de violência contra jornalistas.

O tumulto começou após o correspondente da TV Globo Leonardo Monteiro questionar o motivo dele não participar de alguns eventos do G-20. Após o presidente hostilizar o repórter, seguranças de Bolsonaro empurraram e deram soco no estômago do profissional. No meio da confusão, o celular do jornalista Jamil Chade, do UOL, que filmava as agressões, foi levado pelos seguranças e atirado na rua.

A vice-líder da Oposição na Câmara dos Deputados, Perpétua Almeida (PCdoB-AC), antecipou que vai convocar o chanceler brasileiro a dar explicações sobre o episódio na Comissão de Relações Exteriores da Casa. Aos jornalistas, prestou solidariedade: “Vocês trabalhavam, cumpriam a difícil missão de garantir transparência na agenda do presidente”, disse a deputada.

Para o vice-líder do PCdoB na Câmara, Orlando Silva (SP), Bolsonaro agiu contra a lei: “Repórter da Globo foi agredido por segurança da Presidência após Bolsonaro hostilizá-lo. Na prática, o presidente autoriza e induz agressões à imprensa. Dessa vez foi um funcionário de sua segurança. É um escândalo, um crime contra a Constituição.”

A deputada Alice Portugal (PCdoB-BA) disse que agredir jornalistas é como rasgar o direito à informação. “Bolsonaro não tem limites. Envergonha o Brasil e afirma sua retórica e prática de ódio. Não tem mais porque esperar: #impeachmentja”, postou no Twitter.

Repúdio

A Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (Abraji) distribuiu nota pela qual repudiou as agressões aos jornalistas e explicou os fatos com detalhes. Confira a íntegra:

Abraji repudia agressão a jornalistas brasileiros em Roma

Neste domingo (31.out.2021), ao menos cinco equipes de reportagem foram agredidas durante a cobertura de um dos passeios do presidente Jair Bolsonaro (sem partido), em Roma, na Itália, onde esteve para participar da reunião do G20. Segundo relato do colunista do UOL, Jamil Chade, o episódio de violência começou antes mesmo da aparição de Bolsonaro, com uma produtora da Globo sendo intimidada por pessoas que aguardavam o presidente, e a repórter da Folha de S.Paulo, Ana Estela de Sousa Pinto, sendo empurrada de forma violenta por um segurança.
Jair Bolsonaro retornava para o centro de Roma, quando decidiu se encontrar com apoiadores nas proximidades da embaixada brasileira. Após um breve discurso do presidente, diversos outros jornalistas também foram empurrados e agredidos por profissionais que faziam a segurança no local.

Ainda segundo o relato do colunista do UOL, minutos depois de o presidente deixar a embaixada, uma equipe de reportagem da GloboNews foi agredida por um segurança. O correspondente Leonardo Monteiro foi empurrado e recebeu um soco no estômago, no momento em que perguntou o porquê de o presidente não ter participado de alguns eventos do G20. De acordo com o G1, Monteiro também foi tratado com hostilidade por Bolsonaro. Ao tentar registrar a violência, Jamil Chade foi empurrado e agarrado pelo braço, além de ter o celular apreendido e jogado na rua.

A Folha de S.Paulo também tentou gravar a agressão, mas, segundo esta matéria da enviada especial, outro agente teria tentado arrancar o celular da repórter e a ameaçado. No relato da jornalista, entre as vítimas, estaria ainda uma equipe da BBC Brasil.

Ao questionar Bolsonaro sobre por que ele não participaria da Cúpula do Clima (Cop-26), em Glasgow, na Escócia, Jamil Chade ouviu em resposta: “Não te devo satisfação”. Acostumado a cobrir visitas de presidentes do Brasil ao exterior, o repórter afirmou nunca haver passado por situação semelhante. “É patético o fato de a imprensa ser agredida na cobertura de um presidente em Roma para o G20, em um domingo à tarde”.

A Abraji repudia mais esse ataque à imprensa envolvendo a maior autoridade do país. Ao não condenar atos violentos de seus seguranças e apoiadores a jornalistas que tão somente estão cumprindo seu dever de informar, o presidente da República incentiva mais ataques do gênero, em uma escalada perigosa e que pode se revelar fatal.

Atacar o mensageiro é uma prática recorrente do governo Bolsonaro que, assim como qualquer outra administração, está sujeito ao escrutínio público. É dever da imprensa informar à sociedade atos do poder público, incluindo viagens do presidente no exercício do mandato. E a sociedade, por meio do art 5º da Constituição, inciso XIV, tem o direito do acesso à informação garantido.

Diretoria da Abraji, 31 de outubro de 2021