O procurador-geral da República, Rodrigo Janot, deixa claro em documento enviado ao Supremo Tribunal Federal (STF) que o presidente Michel Temer (PMDB-SP) e Aécio Neves (PSDB-MG) tentam estancar as investigações da Polícia Federal.     

Segundo Rodrigo Janot, os supostos repasses tinham o intuito de “garantir o silêncio” de empresários, políticos e a “combinação de versões” entre os delatores para escaparem da prisão.

"Verifica-se que Aécio Neves, em articulação, dentre outros, com o presidente Michel Temer, tem buscado impedir que as investigações da Lava Jato avancem, seja por meio de medidas legislativas, seja por meio de controle de indicação de delegados de polícia que conduzirão os inquéritos", acrescenta.

As declarações foram feitas com base nas gravações entre o senador Aécio Neves, Michel Temer e o presidente do frigorífico JBS, Joesley Batista. No pedido de investigação Janot afirma que o senador e Temer teriam "organizado uma forma de impedir que as investigações [da Lava Jato] avançassem por meio da indicação de delegados que conduziriam os inquéritos, direcionando as distribuições".

No áudio entre Temer e Joesley, o empresário revela a Temer que comprou juízes, procuradores e fala sobre a mesada ao ex-deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ). O presidente responde com um “ótimo, ótimo”, parecendo concordar com os crimes cometidos por executivo do grupo JBS. Em nenhum trecho foram citados nomes de procuradores. A PF prendeu nesta quinta-feira (18) o procurador Ângelo Goulart Villela, suspeito de envolvimento no caso.

Para o deputado Rubens Pereira Jr. (PCdoB-MA), houve consentimento do presidente diante da afirmação exposta nas gravações. “Temer ouviu que foram comprados juízes, procuradores, que tinha ajuda mensal para Cunha. Ele ficou sabendo de várias condutas criminosas e nada fez. Compactuou. Pululam crimes! Não tem como continuar presidente! ”, alerta o parlamentar.

Este é o mesmo entendimento apresentado pelo procurador-geral, Rodrigo Janot, que acentua a gravidade dos fatos. "Existem, ainda, elementos que apontam para diversos atos realizados com o intuito de impedir ou, de qualquer forma, embaraçar a investigação dos crimes praticados. Depreende-se do material colhido que o pagamento de propinas ao ex-deputado federal Eduardo Cunha e ao doleiro Lucio Funaro" conclui no pedido encaminhado ao STF.

O ministro da Suprema Corte, Luiz Edson Fachin determinou a abertura de inquérito para averiguar as conversas entre Temer, Aécio e o deputado afastado Rodrigo Rocha Loures (PMDB-PR), que está relacionado ao acordo de delação de executivos da JBS.