O líder do PCdoB na Câmara, deputado Renildo Calheiros (PE), afirmou que, ao participar da Cúpula de Líderes sobre o Clima, organizada pelo governo dos Estados Unidos, Jair Bolsonaro deu mais uma demonstração de que continua com sua prática de “dizer uma coisa e fazer outra”.

“Como se diz no popular, ‘afinou’, mudou o tom. Tentou melhorar sua imagem ao definir metas para o meio ambiente. É difícil acreditar, conhecemos a peça. Esse governo se contrapôs às políticas ambientais mundiais nos últimos dois anos. A gestão do governo Bolsonaro é uma das piores. O desmatamento cresceu. O presidente diz que fortaleceu órgãos de controle, mas o Ibama está paralisado por instrução normativa do ministro Ricardo Salles, que inviabiliza a fiscalização. Isso nunca ocorreu. Está passando a boiada?”, questionou.

Renildo Calheiros acrescentou que, com a postura adotada pelo seu presidente, o país “é submetido a mais um vexame internacional”. “O Brasil passou de país influente a vilão da preservação ambiental”, apontou.

O pronunciamento de Bolsonaro na reunião, patrocinada pelo presidente norte-americano, Joe Biden, destoou das ações que o Brasil, sob seu comando, vem tomando em relação às questões climáticas e ao combate do desmatamento, principalmente na região amazônica. Ele se comprometeu a zerar o desmatamento ilegal até 2030 e antecipou em dez anos, para 2050, a meta de neutralizar as emissões de carbono. Também prometeu, sem dizer como, duplicar os recursos para a fiscalização dos órgãos ambientais.

Em discurso na sessão da quinta-feira (22), o líder da bancada do PCdoB enumerou as contradições entre o discurso e a prática adotada pelo governo Bolsonaro nos dois últimos anos.

“O presidente disse, na Cúpula do Clima, que tomou várias medidas para fortalecer os órgãos de fiscalização e de controle ao meio ambiente dentro do país. Mas, os fatos estão registrados, filmados, fartamente documentados. Eu vou me referir rapidamente a alguns deles: Bolsonaro exonerou o presidente do Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais), Ricardo Galvão, porque divulgava os dados do desmatamento; o Ibama (Instituto Brasileiro do Meio Ambiente) está com suas atividades paralisadas, inviabilizando completamente a fiscalização da situação ambiental. É uma situação que o Brasil nunca viveu; agora há pouco foi exonerado o delegado da Polícia Federal do Amazonas, que tinha como responsabilidade fiscalizar o desmatamento e o transporte de madeira ilegal”, observou.

O deputado lembrou que o ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, disse na famosa reunião ministerial realizada dia 22 de abril de 2020 que era necessário aproveitar o momento em que a sociedade estava preocupada com a pandemia para fazer passar a boiada, adotando em seguida uma série de atos administrativos tratando a questão ambiental com descaso.

“As palavras proferidas pelo próprio presidente da República são sempre no sentido de tratar o meio ambiente com descaso. E o que é pior, isso isolou o Brasil internacionalmente. O Brasil é visto como um país que não cuida do meio ambiente, que não cuida das suas matas, das suas florestas, das suas águas, dos seus rios, de nada, que trata com total descaso a questão ambiental”, frisou.

Calheiros advertiu ainda que essa postura do governo “é muito grave, porque deixa o Brasil vulnerável, enfraquecido até para enfrentar algum exagero, se houver, de alguma grande potência”.

“Nós sabemos que os interesses econômicos e geopolíticos sempre comandaram as relações entre as nações. E o Brasil está muito vulnerável, isolado politicamente, isolado diplomaticamente e com a imagem destruída. Isso dificulta inclusive o enfrentamento, se o país precisar para conter algum exagero”, assinalou.