O presidente da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Covid, senador Omar Aziz (PSD-AM), determinou, nesta quarta-feira (7), a prisão do ex-diretor do Departamento de Logística do Ministério da Saúde Roberto Dias, acusado de negociar propina na compra da vacina AstraZeneca. O senador disse que cansou das mentiras do depoente.

Aziz já havia reclamado que o ex-servidor da Saúde estava se esquivando das perguntas formuladas pelos senadores.

“O depoente vai ser recolhido pela Polícia do Senado. Ele está mentindo desde cedo e tem coisas que não dá para admitir (…) chame a Polícia do Senado. O senhor está detido pela presidência da CPI”, afirmou Aziz.

Após tentativa de reversão da prisão do depoente, Aziz endureceu ainda mais o discurso. "Não aceito que a CPI vire chacota, temos 527 mil mortos e os caras brincando de negociar vacina", pontuou.

A decisão de Aziz repercutiu na Câmara dos Deputados. “O homem que foi pra mesa do bar tomar umas e outras e, do nada, “caiu do céu” 400 milhões doses de vacinas e R$ 2 bilhões de propina, acaba de receber voz de prisão na CPI da Covid”, anunciou a vice-líder da Oposição, deputada Perpétua Almeida (PCdoB-AC) .

Para o vice-líder do PCdoB na Câmara, deputado Orlando Silva (SP), a prisão de Dias era “bola cantada”.
“Não precisava ser nenhum vidente para entender que Omar Aziz tinha dado um recado ao depoente quando lhe falou que sabia que ele tinha um dossiê, sabia com quem estava guardado, sabia que Dias estava acobertando outras pessoas. A prisão, certa ou errada, era bola cantada”, declarou o parlamentar ao final da sessão.

Para a deputada Alice Portugal (PCdoB-BA) “a busca da verdade sobre o superfaturamento, a existência de propina e o desleixo criminoso com a vida do nosso povo começa a tomar forma e a dar resultados”.

Já a deputada Jandira Feghali (PCdoB-RJ), vice-líder da Minoria, afirmou que “a voz de prisão dada ao ex-diretor Roberto Dias pode revelar ao Brasil quem são seus parceiros”. 

O depoimento de Dias deixou lacunas e contradições sobre sua participação nas conversas com intermediários da Davati Medical Supply, empresa que prometia a venda de 400 milhões de doses da AstraZeneca, mas não era sequer credenciada pela farmacêutica.

Ele confirmou a ocorrência de jantar em Brasília com o policial Luiz Paulo Dominghetti Pereira, mas negou ter pedido propina de US$ 1 por dose, e disse que o encontro ocorreu por acaso.

Dias também jogou sobre a Secretaria-Executiva da Saúde, área dominada por militares na gestão de Eduardo Pazuello, a responsabilidade por negociações das vacinas, mas reconheceu que trocou mensagens por WhatsApp e e-mail com intermediários da empresa.

Áudios e mensagens encontrados no celular do policial militar Luis Paulo Dominghetti, e que foi periciado pela CPI da Covid, desmentiram versão dada pelo ex-diretor de Logística do Ministério da Saúde.